É hora de ajustar a estratégia?
- 6 de set. de 2024
- 9 min de leitura
Mudar a estratégia cedo demais ou com demasiada frequência pode ser custoso e contraproducente, levando ao desperdício de recursos e minando a confiança das partes envolvidas

Imagem: Adobe stock
Uma das poucas certezas na gestão empresarial é que, em algum momento, todos os projetos e estratégias precisarão de um ajuste de rota. Novas tecnologias surgem quase diariamente, concorrentes surpreendem e planos nunca são perfeitos. Por isso, agilidade e adaptação rápida são habilidades críticas para a liderança. Por outro lado, mudar a estratégia cedo demais ou com demasiada frequência, pode ser custoso e contraproducente, levando ao desperdício de recursos e minando a confiança das partes envolvidas.
Então, como saber se o ajuste que você quer considerar é realmente a melhor escolha?
Neste artigo, sugiro três perguntas que você pode se fazer antes de tomar a decisão de mudar o rumo. Para cada uma, mostro algumas das ferramentas práticas, baseadas no livro “Simply Effective”, de Ron Ashkenas, e apresento exemplos de como aplicá-las.
1. O problema está na estratégia ou na execução?
Quando um projeto não está indo bem, a primeira pergunta que você deve se fazer é se a estratégia precisa mudar ou se a execução é que está falhando. Muitas vezes, o problema não está na estratégia em si, mas na forma como ela é implementada. Um plano sólido pode falhar por falta de uma boa execução, assim como uma execução excelente pode não salvar uma estratégia ruim.
Um exemplo que ilustra a importância de distinguir entre problemas de estratégia e de execução é o caso da Natura, uma das maiores empresas de cosméticos do Brasil.
No início dos anos 2000, a Natura decidiu expandir as suas operações para o mercado internacional, com foco na América Latina. A estratégia era clara: levar o modelo de negócios de venda direta, que havia sido extremamente bem-sucedido no Brasil, para outros países da região. A empresa acreditava que a combinação de produtos de alta qualidade e um modelo de negócios comprovado garantiria o sucesso no exterior.
O problema surgiu quando, apesar de uma estratégia sólida, nos primeiros anos de operação internacional, a empresa enfrentou dificuldades para alcançar as metas de vendas e conquistar mercado. Os executivos começaram a questionar se a estratégia de expansão internacional estava correta ou se deveriam rever seus planos.
No entanto, ao analisar mais profundamente a situação, a liderança da Natura percebeu que a questão não estava na estratégia de expansão em si, mas na execução. A empresa havia subestimado as diferenças culturais e da dinâmica do mercado nos novos países, além de não ter adaptado suficientemente o treinamento das consultoras de vendas para os novos contextos. Os materiais e abordagens que funcionavam bem no Brasil não estavam surtindo o mesmo efeito em outros países.
Assim, em vez de abandonar a estratégia de expansão, a Natura decidiu ajustar a execução. A empresa investiu em pesquisas de mercado locais para entender melhor os consumidores em cada país e adaptou as suas campanhas de marketing e programas de treinamento de consultoras de vendas para refletir as preferências culturais e comportamentais de cada mercado. Também reforçou o suporte local para as consultoras, garantindo que elas tivessem as ferramentas e o treinamento adequados para serem bem-sucedidas.
Com essas mudanças na execução, a Natura começou a ganhar tração nos mercados internacionais e, ao longo do tempo, consolidou a sua presença em vários países da América Latina. Hoje, a Natura é uma marca reconhecida internacionalmente, com sucesso em diversos mercados além do Brasil.
Uma ferramenta eficaz para identificar problemas na execução é o mapeamento de processos. Ele permite entender como as tarefas são realizadas e identificar pontos de melhoria. Ao revisar suas operações logísticas, a Natura utilizou o mapeamento de processos para detectar gargalos e melhorar a entrega de produtos aos clientes. A partir dessa análise, a empresa ajustou os processos e conseguiu aumentar a eficiência sem mudar a estratégia de crescimento sustentável.
Aqui estão alguns aplicativos populares para mapeamento de processos:
Lucidchart: ferramenta online que permite criar diagramas de fluxo e mapas de processos com facilidade. Possui uma interface intuitiva e oferece colaboração em tempo real, ideal para equipes que precisam trabalhar juntas na criação de processos.
Bizagi Modeler: ferramenta gratuita para modelagem de processos de negócios que segue o padrão BPMN. É uma excelente opção para quem busca uma solução robusta e profissional para mapeamento de processos.
Draw.io: ferramenta gratuita e online que permite criar diversos tipos de diagramas, incluindo mapas de processos. É altamente personalizável e pode ser integrada ao Google Drive para facilitar o armazenamento e o compartilhamento.
Microsoft Visio: ferramenta popular para a criação de diagramas de processos e fluxogramas, integrada ao ecossistema Microsoft. Oferece templates e formas específicas para facilitar a modelagem de processos.
Gliffy: ferramenta online que permite criar diagramas de processos simples e diagramas de fluxo. É conhecida por sua facilidade de uso e integração com outras ferramentas como Atlassian Confluence e Jira.
Essas são apenas algumas das ferramentas disponíveis para mapeamento de processos. A maioria tem versões de entrada gratuitas que variam em termos de complexidade e recursos. Escolha a que for mais conveniente e fácil de implementar para mapear os processos do seu negócio.
2. A pressão externa está influenciando a decisão?
Muitas vezes, projetos importantes ficam sob os holofotes gerando pressão dos acionistas para apresentar resultados rápidos. Essa pressão pode levar a decisões apressadas, como mudar de estratégia sem uma avaliação criteriosa da situação.
Um exemplo que ilustra esse cenário é o caso da Oi, uma das maiores operadoras de telecomunicações do Brasil.
No início de 2010, a Oi enfrentava uma pressão significativa de seus acionistas e do mercado para melhorar o seu desempenho financeiro. A empresa passava por dificuldades, com uma dívida grande e perda consistente da participação de mercado para concorrentes como Vivo e Claro. Diante dessa situação, havia uma grande expectativa por resultados rápidos que pudessem reverter a situação.
Pressionada pelos acionistas a mostrar melhorias financeiras rápidas, a Oi tomou a decisão de se fundir com a Portugal Telecom em 2013, numa tentativa de expandir os negócios e melhorar a competitividade. No entanto, essa decisão foi feita de forma apressada, sem uma avaliação criteriosa das implicações estratégicas e dos riscos envolvidos na fusão.
O resultado não foi, nem de longe, o esperado. Em vez de melhorar, a fusão exacerbou os problemas financeiros da Oi devido à descoberta posterior de que a Portugal Telecom tinha investido em títulos de dívida de alto risco do Grupo Espírito Santo, que acabou entrando em colapso financeiro. A falta de uma avaliação mais profunda da fusão levou a Oi a uma situação ainda mais crítica, culminando em seu pedido de recuperação judicial em 2016.
Ou seja, em vez de ajudar a resolver os problemas da empresa, a fusão com a Portugal Telecom agravou ainda mais a situação, ilustrando a importância de uma avaliação criteriosa antes de tomar decisões estratégicas, principalmente sob pressão.
Uma ferramenta útil para garantir que decisões importantes estejam alinhadas com os objetivos de longo prazo da empresa, especialmente sob intensa pressão, é a avaliação estratégica aprofundada.
No caso da Oi, por exemplo, em vez de ceder à pressão dos acionistas por resultados financeiros no curto prazo, e tomar uma decisão apressada como foi a fusão com a Portugal Telecom, uma abordagem mais prudente teria sido realizar uma avaliação estratégica aprofundada, revisando cuidadosamente as suas opções e os riscos envolvidos.
Entendendo os riscos associados à fusão, a Oi poderia ter evitado agravar a sua crise financeira. Essa prática teria permitido à empresa identificar soluções mais sustentáveis evitando decisões que comprometessem, ainda mais, a sua estabilidade.
A seguir, algumas ferramentas que podem ajudar a realizar a avaliação estratégica aprofundada com pouco custo.
Balanced Scorecard, da ClearPoint Strategy. solução baseada na metodologia do Balanced Scorecard, que permite monitorar e gerenciar a execução da estratégia em toda a organização. O software facilita a criação de painéis de controle, KPIs, e relatórios para avaliação estratégica contínua. Preço a partir de USD 20 por usuário por mês.
BSC Designer: ferramenta online focada na implementação e gestão de Balanced Scorecards. Oferece funcionalidades para definir e acompanhar KPIs, desenvolver mapas estratégicos e realizar análises detalhadas de desempenho. Preço a partir de USD 49 por usuário por mês para a versão profissional.
OnStrategy: plataforma que combina ferramentas de planejamento estratégico com consultoria especializada. A aplicação permite a criação de planos estratégicos, definição de metas, acompanhamento de KPIs, e execução de planos de ação. Planos personalizados a partir de USD 199 por mês para pequenas equipes.
Cascade Strategy: ferramenta abrangente para planejamento e execução estratégica. O software permite definir objetivos, rastrear progresso, medir desempenho e ajustar estratégias em tempo real. É ideal para empresas que buscam um sistema completo de gestão estratégica. Preços a partir de USD 29 por usuário por mês, com uma versão de avaliação gratuita disponível.
Miro: ferramenta colaborativa de quadro branco online que oferece diversos templates para avaliação estratégica, como SWOT Analysis, Business Model Canvas, e outras metodologias. É ideal para sessões de brainstorming e workshops de estratégia. Planos gratuitos com funcionalidades básicas; planos pagos a partir de USD 8 por usuário por mês.
Essas ferramentas oferecem uma ampla gama de funcionalidades que podem ser adaptadas às necessidades específicas de sua organização, desde o planejamento até a execução e acompanhamento da estratégia. A escolha da ferramenta ideal vai depender das suas necessidades específicas, orçamento e preferência pela metodologia estratégica, mas lembre-se que qualquer avaliação é melhor do que nenhuma.
3. Você quer mudar por causa de uma nova oportunidade ou porque a estratégia atual é inadequada?
Novas oportunidades surgem constantemente nos ambientes de negócios, mas nem todas são benéficas. É importante saber avaliar se essas novas oportunidades realmente ajudam a alcançar os objetivos principais ou se são apenas distrações.
A Vale S.A., uma das maiores mineradoras do mundo, teve diversas oportunidades de expansão para novas áreas de negócios ao longo dos anos. No entanto, a empresa sempre tratou essas decisões de forma muito cuidadosa para não se desviar de seus objetivos principais.
Por exemplo, a Vale resistiu à tentação de investir pesadamente em energias renováveis ou outros setores não correlacionados com a mineração em si, preferindo focar na produção de minério de ferro, onde já possuía uma liderança global e expertise consolidada.
Essa abordagem permitiu à Vale concentrar os seus recursos em aumentar a eficiência operacional e explorar novas tecnologias dentro do seu núcleo de negócios, resultando em crescimento sustentável.
Uma ferramenta útil para tratar dessa questão é a revisão de portfólio de projetos. A prática envolve uma análise regular de todos os projetos em andamento para garantir que estejam alinhados com os objetivos estratégicos da empresa e que os recursos estejam sendo alocados de forma eficiente.
Por exemplo, ao considerar novas oportunidades fora do setor de mineração, a Vale realizou uma revisão detalhada de seu portfólio para determinar quais projetos realmente contribuem para seus objetivos de longo prazo. Projetos que não agregam valor significativo ou que desviam a atenção dos negócios principais são descontinuados ou adiados.
Esse processo de revisão permitiu à Vale concentrar os recursos em iniciativas que fortaleceram a sua liderança no setor de mineração, como a adoção de tecnologias de automação e sustentabilidade em suas operações, ao invés de dispersar recursos em áreas fora de seu core business. Com isso, a empresa mantém o foco estratégico e garante que cada projeto em andamento contribua diretamente para os objetivos de crescimento.
A Revisão de Portfólio de Projetos é uma ferramenta que ajuda a evitar a dispersão em novas oportunidades que, embora atraentes, podem não estar alinhadas com a estratégia central da empresa.
Aqui estão algumas ferramentas e aplicações para revisão de portfólio de projetos com respectivos preços aproximados:
Planview: solução robusta para o gerenciamento de portfólio de projetos (PPM). Permite a priorização de projetos, alocação de recursos e avaliação de desempenho com base em critérios estratégicos. Planos personalizados a partir de aproximadamente USD 50 por usuário por mês, com opções avançadas para grandes organizações.
Microsoft Project Online: ferramenta abrangente de gerenciamento de projetos e portfólios, que oferece funcionalidades para planejamento, execução e revisão de portfólios. A integração com o ecossistema Microsoft permite uma gestão eficiente e colaborativa.A partir de USD 10 por usuário por mês para o plano básico, com versões mais avançadas disponíveis.
Smartsheet: plataforma versátil para gerenciamento de trabalho, incluindo a revisão e otimização de portfólios de projetos com recursos de automação, relatórios e painéis de controle. Escolha popular para empresas que buscam simplicidade e flexibilidade. A partir de USD 7 por usuário por mês, com planos mais avançados a partir de USD 25 por usuário por mês.
Wrike: ferramenta de colaboração e gerenciamento de projetos que inclui funcionalidades de revisão de portfólio. Com visualizações de portfólio, relatórios personalizáveis e ferramentas de planejamento estratégico, é ideal para equipes que buscam visibilidade completa do desempenho dos projetos. Planos gratuitos disponíveis e planos pagos a partir de USD 9,80 por usuário por mês.
Asana: ferramenta popular de gerenciamento de projetos que inclui funcionalidades de portfólio para rastrear o progresso e o desempenho dos projetos em tempo real. É ideal para equipes que precisam de uma solução simples e eficaz para monitorar múltiplos projetos simultaneamente. Planos gratuitos disponíveis e planos pagos a partir de USD 10 por usuário por mês.
Essas ferramentas oferecem diferentes níveis de complexidade e funcionalidades para a revisão de portfólios de projetos, atendendo a diversas necessidades empresariais, desde pequenas equipes até grandes organizações. A escolha da ferramenta certa dependerá do tamanho da sua organização, do orçamento disponível e das funcionalidades específicas que você precisa.
Conclusão
Ajustar a estratégia é importante, quando esse ajuste é feito pelos motivos certos. Ferramentas como o mapeamento de processos, a avaliação estratégica e a revisão de portfólio de projetos podem ajudar a garantir que qualquer mudança estratégica esteja alinhada com os objetivos de longo prazo da sua empresa.
Para entender melhor as ferramentas de apoio à gestão de empresas, assine o relatório GESTÃO DE VALOR neste link: gestaodevalor.com.br
Claudio Nasajon é fundador da Seller.
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